terça-feira, 31 de agosto de 2010

2ª CARTA

                                              ....


A calmaria continua, temos tido dias de chuva. Um sub-oficial chegou a orquestrar um ataque surpresa, mas todos estamos cansados, o comandante acredita que o descanso é uma estratégia melhor do que uma ofensiva. Não confunda com bondade ou preocupação com os companheiros, ele apenas não acredita nos efeitos concretos de tal ataque.

De toda sorte, ordenou que nos revezemos em turnos nos postos avançados para vigiar a atividade dos inimigos.
Para que os soldados não amoleçam, são acordados de repente e obrigados a bradar gritos sangrentos de guerra. Para escrever, finjo que estou domindo.

Ando tendo tempo para pensar na vida. Quanto mais penso em vida mais me pergunto se apenas eu vejo o que está acontecendo aqui..., existem algumas coisas estranhas, que preciso lhe contar. Ops, estão gritando, nos chamando aos gritos, deve ser um novo ataque, tenho de ir, assim que der eu continuo... saudades...

...Desculpe as letras tortas, escrevo enquanto corro para enviar essa carta, o chamado não era um ataque, era para dizer que todas as cartas terão de passar pelo crivo do comandante... muita coisa acontece estranha por aqui, vou ter de dar um jeito de me comunicar, se essa carta for pega, corro muito perigo então, sei que não disse antes, mas saiba que te amo. Não sei como será, mas bolarei um código... algo que você entenda bjos..., vou enviar agora, Deus queira que ela passe antes da revista... a Deus...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Da Guerra Para o Amor: cartas

                              1ª CARTA

  
Está difícil suportar essa situação, há três dias que essa guerra não tinha pausa, acordamos com os morteiros lançados vizinho ao acampamento. Já não vejo nada belo a não ser a tua fotografia, amassada em meu bolso. Tenho de vê-la em segredo, pois todas as fotografias de mulheres, até mesmo desenhos, são cobiçados e já viraram até moeda de troca por cobertor, comida e água limpa. Há quem durma ao léu, no frio intenso, apenas para aquecer a mente com fantasias afetivas.


 Não é fácil esconder meus sentimentos. Fica cada vez mais evidente que faço tudo para não matar alguém. Já não proponho mais diálogos com os inimigos, pois já fui exposto ao ridículo por aqueles que tem sangue nos olhos. Isso aqui mais parece um parque de diversões para uns sujeitos que deveriam estar em jardins zoológicos, servindo de exemplo de como não se deve ser, ou serem estudados para diagnosticar como não se deve criar e educar crianças. Alguns deles, se pudessem, matariam inclusive os companheiros de exército. Mas como isso abreviaria a participação deles nessa guerra, não o fazem. Querem permanecer o máximo possível nessa terra de ninguém, caçando vidas.



Sou um pacifista, sempre fui. Acredito e sempre acreditarei no poder da conversa, do diálogo. Todos deveríamos partilhar o mesmo pão, usar igualmente as terras e delas cuidar e usufruir. Para quê isso tem de ser "meu"? Ou "seu"? O que houve com o "nosso"?


A podridão aqui assusta, banho só de água suja, duas vezes por semana, se tiver sorte. A guerra só pára quando chove, todos precisamos da água. Então, como em um acordo tácito, quando chove temos trégua para que cada lado procure armazenar e tomar água da chuva. É o único momento em que vejo sentimentos bons nos olhos deles, alguns chegam a encher os olhos de lágrimas, de tanta alegria. Acredito que tanta sujeira contribua para que a maioria se comporte como bichos irracionais, uma maneira de suportar essa realidade nada humana.


Nesse caos sentimental, tenho o que chamo de tratamento emocional. Além das minhas orações, repito em minha mente poesias que me obrigaram a aprender na escola. Isso serve para que eu me mantenha são, e não entre nessa "pilha" de super herói ou de personagem de vídeo game adolescente. Só assim me mantenho sadio, e não esqueço da beleza da essência humana, dos sentimentos, dos meus princípios. Já até consegui fazer algumas que, com um pouco mais de coragem, escreverei em outra carta.


Essa guerra não terá vencedores, já não chamam os "companheiros" pelo nome, cada um recebeu um número, para reduzir a comoção pelos abatidos. E como são muitos! Todos os dias. Dou graças a Deus por estar vivo e, mais do que isso, mentalmente são. Muitos aqui já são mortos-vivos, duvido que consigam voltar a normalidade após a guerra. Já ouvi de um, e concordo com ele, que será melhor se ele morrer aqui, pois não haverá lugar para o que ele se tornou caso consigamos conquistar a paz pela qual estamos lutando.


Poderia dizer: "Seria cômico se não fosse trágico", mas definitivamente não consigo achar elementos cômicos nessa ironia. Seres humanos lutando por uma paz que eles jamais serão capazes de usufruir. Se tornando animais cujo único habitat possível é o que os transformou, a guerra; perdendo a capacidade de se adaptar, algo tão essencial e característico da raça humana. Sempre achei bobagem as palavras de Ghandi, mas hoje vejo que é impossível alcançar a paz pela guerra, pelo menos não a paz interior, a mais importante.

 No pensamento da maioria aqui, nos raros momentos em que não estão comemorando uma chacina ou abatidos e com medo pela morte de algum "companheiro", o mundo lá fora é lindo, uma maravilha. Praticamente só existem parques com árvores e gramados bem verdinhos, bem conservados, cheios de crianças bonitas e bem educadas, brincando sem se sujar. Admito que até eu já me deixei viajar por alguns instantes..., mas logo percebo, em um suspiro de sanidade, que estas lembranças não passam de uma criação utópica. Creio que essa desilusão aumentará ainda mais o desequilíbrio psicológico desses soldados.



Não tema apenas a guerra, mas os produtos dela. A história aqui se assemelha a uma casa grande, onde são necessários vários cães ferozes para guardá-la, contudo, durante o dia, eles precisam estar presos, para não ferirem as pessoas que eles tem o dever de proteger a noite.

                                                  ...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Palavras ao vento...




Acordei com a brisa balançando minha janela..., bom saber que havia vento. Andava tão parado que até providenciei a instalação de um “ar-condicionado”. Besteira..., não pelo investimento, ou pelo retorno - adoro acordar com o frio, envolto no lençol, tremendo um pouco, buscando cegamente o controle para aumentar a temperatura para algo mais humano. Nasci para temperaturas frias, em um lugar muito quente - mas porque perdi o frescor do ar natural, os raios do sol e a vista da pequena floresta que se esconde na selva de pedra ao meu redor. Não me ressinto do calor, mas um pouco da paisagem.


Hoje sonhei em ser feliz. Existe algo mais abstrato? Felicidade..., uma busca quotidiana por algo fisicamente intangível. Alguém me disse que não existe felicidade, que não podemos SER felizes, mas sim existem momentos felizes e, que por isso, podemos ESTAR felizes. Pois bem, enxergo algum sentido nessa afirmação. Se ser feliz fosse uma condição perene, ao invés de um estado intermitente, no decurso da vida não seríamos tantas vezes interpelados (em sua maioria, por nós mesmos) se estamos felizes ou não.


Ontem assisti, mais uma vez, um trecho do filme “Em busca da felicidade”. Na verdade, vi um retrato assustadoramente real (no âmbito fictício do mundo cinematográfico) do quão abstrato e intangível é a felicidade. No ideário comum, assim como no meu, casar-se não apenas faz parte da felicidade, como é um dos pilares centrais para a construção dessa. Como podemos ter como um pilar da felicidade a inclusão de um ser antígeno para nosso sistema imunológico e não esperar uma reação?


Um ser com todas as suas peculiaridades não aceitaria viver em uma realidade criada, através dos anos, por outro completamente diferente. Pois é, os leucócitos (nossos desejos) com certeza combaterão os desejos dessa nova substância. Esperar uma compatibilidade imediata, ou até mesmo futura, porém completa, é mergulhar do céu da inocência sem o pára-quedas da sensatez. Podemos então discernir que, para alicerçarmos a nossa felicidade, temos de abrir mão de parte dela, como um jogador de futebol que, para ter a liberdade de jogar pelo time de coração (no período de um ano,por empréstimo), prolonga seu vínculo por 2 anos, com o clube que o detém (e o aprisiona, burocraticamente).


Percebo então, que, na maioria de meus momentos, mesmo na busca dessa tal felicidade, encontro-me satisfeito com o que tenho, com o modo como vivo, um pouco menos com meu relacionamento com as pessoas a minha volta, mas, de modo geral, tenho mais regozijos do que queixas.


Posso me considerar feliz, quando dependo apenas de mim? Posso bastar-me? Pois assim, dificilmente aceitarei a conjectura de “momentos felizes”. Todavia, tal e qual um autista frustrado, percebo que não consigo afugentar as relações humanas que me entristecem do meu convívio.


Assim, concluo, sou sim feliz, no que diz respeito a mim mesmo, contudo, estou ou não feliz, quando dependo das relações humanas.

Ps.: O fato de a felicidade depender de outrem não me deixa feliz, hehe.
Ps2.: Esse texto é ficção, não retrata a vida do autor, hehe.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Amor verdadeiro

O mundo me chamou para viver, eu aceitei

Achei que era certo e suas coisas amei

Pedi prova de amor, mas o mundo não me deu

Quem me deu foi Jesus quando na sua cruz morreu


Fui muito feliz quando corri atrás do trio

Quando a musica acabou eu senti um vazio

Aquilo não era bastante para permanecer

E o meu coração já queria crescer


Queria o amor em tempo integral

E não mais uma alegria banal

Queria um amor grande como Jesus

O suficiente para aceitar a cruz


Um dia acordei e tudo mudou

O meu coração saiu e voou

Eu o encontrei dentro da igreja

Na Missa ele estava em cima da mesa


Que lá eles chamavam de altar

E o padre me disse venha buscar

Pois o seu coração está na Eucaristia

E era isso que você não sabia.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"Mamãe-detetive" versus "Papai-tarado"

Em apenas uma semana, duas notícias sobre abuso sexual de menores. Infelizmente, essas notícias seriam corriqueiras, não fossem algumas peculiaridades:

.

No primeiro caso, uma mãe notou que seu filho adolescente andava estranho, apresentava mudanças em seu comportamento. Ao perceber essa alteração, ela tratou de investigar. Conversou com o filho e, não conseguindo descobrir nada, partiu então para o computador do jovem. Mexeu daqui, fuçou dali, e conseguiu descobrir uma conversa com um "amigo" mais velho. Ao interrogar seu filho de 14 anos, o jovem revelou que conheceu esse "amigo" pela internet e que ele (o "amigo") o convidou para uma visita. Quando o menino (de 14 anos) estava na casa do "amigo" esse o obrigou a fazer sexo com ele. A mãe, então, fez com que o filho voltasse a conversar com o seu agressor, dessa vez sob a orientação dela. Ela, engolindo as lágrimas e o ódio que sentia naquele momento, disse ao filho o que perguntar e o que responder. Quando conseguiu reunir todas as provas, chamou a polícia. O pervertido foi preso e confessou o crime. Para espanto geral, o criminoso tem 26 anos, boa aparência, é casado e será pai dentro de alguns meses. Qual será o futuro dessa criança, com um pai doente como esse? O que ele sentiria se alguém fizesse com o filho dele, que está para nascer, o que ele fez com o filho da nossa mãe-detetive? Nesse caso, a mãe foi uma grande heroína.

.

No segundo caso, infelizmente, o "pai" (se é que esse calhorda pervertido pode ser chamado assim) foi o grande vilão. Ele foi capaz de abusar sexualmente da própria filha de 4 anos. Além de todas as coisas horríveis que cercam os crimes sexuais, principalmente contra menores, esse possui um toque ainda mais perverso. O pai, que deve ser o grande protetor e referência masculina, torna-se o grande carrasco. Nesse caso, a pobre garota, além do trauma (ela descreveu para a mãe, com riqueza de detalhes, o que o "pai" fazia com ela), terá de viver sem pai e sem o menor apego a essa figura. O crime foi desvendado porque a mãe da criança estranhou a situação, uma vez que o pai ia para o sofá no meio da noite para ficar a sós com a criança e, toda vez que a mãe se mexia no quarto, o calhorda do "pai" corria de volta à cama, para disfarçar. Além disso, a filha tinha medo de ficar a sós com ele e dizia a mãe: - eu só dou beijo nele pra ele não me bater, mas eu não gosto dele não mamãe, eu não o amo.

Qual desses pais deveria existir? A "mamãe-detetive" ou o "papai-tarado"?

-A mãe-detetive! Gritarão vocês, mas estão errados. Sim!!!, errados!

Ambos não deveriam existir, pois em um mundo decente, não precisaríamos de mães-detetive, apenas de pais normais, para educarem seus filhos com amor e carinho suficientes para que, quando adultos, não cometam crimes dessa natureza abominável contra crianças (suas ou não). Os resultados são devastadores para o crescimento e para a formação da personalidade.
.
As famílias precisam retomar a posição de berço da educação, da moral e dos bons costumes.
.
Como vimos no texto "Mãos ao alto, mamãe", neste mesmo blog, a falha na principal função da família pode gerar (e tem gerado) filhos capazes de se voltar contra os pais (no caso, planejar um assalto contra a mãe) e pais capazes de se voltar contra os filhos (no caso desse texto, abuso sexual da própria filha).
Não há segredo nem magia para criar os filhos: pais ajustados geram filhos ajustados.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Metalinguística da Inspiração ausente

Ideias passam voando, meu pensamento anda preguiçoso, devagar

Não parei nem fui buscar, nem ali, perto, nem distante,

Nada saiu da estante, nem me fez levantar


.
A inspiração, filha pródiga, abandonou o lar
Avisou-me que iria chegar, nada até o instante
Apesar desse atraso constante, decidi acreditar
.


Espero, o mais breve possível, poder contar
Com essa que não tenho, na conta, por tratante
A demora me faz relutante, a esperança, esperar

.


E o leitor, ansioso, entediado, põe-se a reclamar
- Cadê os textos?, tenho comentários importantes -
E o escritor, um pai vigilante, põe-se a procurar
.


A filha ingrata que desapareceu sem informar
Renasce sem querer, em seu caminho distante
Pois na ausência, torna-se essência para criar.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O albatroz cansado e o seu ninho distante

O passarinho alçou voos muito altos a vida toda e, quando precisou voltar para o ninho, para o seu filho passarinho, faltaram forças para voar. O filhote passarinho, amargurado e sozinho, pôs-se no ninho chorando a cantar. Eis a canção do filhote passarinho:


O albatroz, cansado está
abre as asas, não pode voar
mas ainda tem na memória
os seus voos sobre o mar
.
Traz consigo sua história
relembra seus tempos de glória
que o tempo não pode apagar
pois ainda lhe é viva a memória
.
E esse Albatroz sonhador
para pousar não tinha problema
partir é que era seu dilema
pois era escravo do amor
.
Essa ave ágil e veloz
voou em tempos de guerra
e não há um só sobre a terra
capaz de vencer o albatroz
.
Um dia o albatroz sonhador
no horizonte construiu um ninho
e lá nasceu um passarinho
que do pai só queria o amor
.
E o albatroz vinha e ia
visitar este passarinho
que o recebia com amor e alegria
e ao vê-lo partir chorava sozinho
.
Mas o passarinho cresceu
o filho do Albatroz sonhador
e continua querendo o que é seu
do pai ainda quer o amor
.
Carrega em seu peito uma chama
mas o Albatroz está cansado agora
já não voa tão alto como outrora
porém sabe que o passarinho o ama.
.

Canção do passarinho por Emerson Giovane Farias Salvado de Lima, em 28/05/2006